Inovação: uma roda de oportunidades

Quando falamos em crise, não nos referimos apenas aos aumentos de gasolina, supermercado ou energia que o povo não pode arcar, tão pouco estamos descrevendo unicamente um momento de alta do desemprego e juros, dólar e euro. Uma crise em um país, especialmente no nosso, pode ter efeitos ainda mais profundos do que imaginamos, e que a longo, médio e curto prazos, podem impactar de forma drástica e certeira a sociedade brasileira.

Para entender melhor uma das maiores forças da nossa economia, antes de qualquer coisa, precisamos falar dos chamados ativos intangíveis. Eles são uma espécie de “bens” impalpáveis, como por exemplo, patentes, marcas, capital humano e propriedade intelectual. Esse combinado compõe o valor do negócio, e o restante além dele, é chamado “patrimônio” da empresa.

Medir e acompanhar os valores desse patrimônio é normal, assim é possível avaliar a valorização do negócio. No entanto, os bens intangíveis também são importantíssimos e fazem toda a diferença quando falamos de crescimento econômico.

De acordo com a consultoria Apsis, o peso dos ativos intangíveis caiu de 60%, em 2009, para 37%, há dois anos, e no ano passado reagiu para 50% do valor das empresas brasileiras. Essa queda é resultado da crise que 99% das empresas brasileiras enfrentou, ela decepou os investimentos em pesquisa, ao contrário do que aconteceu em outras partes do planeta.

E porque esses dados preocupam tanto?

Bem, se pensarmos estrategicamente, os bens intangíveis significam o potencial de inovação das organizações do Brasil. Ou seja, infelizmente, tudo isso culmina em uma verdade: o nosso país está cada vez mais atrasado.

Quando falamos de inovação, uma das coisas mais importantes são as patentes, que representam uma forma de proteção que dá direito exclusivo por um período sobre um novo produto ou processo. Estados Unidos e a Coréia do Sul são alguns dos países mais rápidos do mundo na aprovação desse processo. No Brasil, o prazo médio é de 10,8 anos, deixando o país na 30ª posição do ranking mundial. Os Estados Unidos, primeiro colocado, leva em média 2 anos e meio para analisar um pedido.

Esse atraso de décadas, significa que nosso país possui um estoque de mais de quase 244 mil patentes e 422 mil marcas aguardando análise de registro, e a lentidão desses processos afeta a competitividade e a capacidade de inovação da indústria nacional. Um exemplo disso é que nesse processo de morosidade quase inacreditável, alguns pedidos perdem o sentido, uma vez que a tecnologia fica obsoleta. Existem, por exemplo, alguns processos ainda em andamento, de pedidos de patentes de software feitos em 1997, ou seja, mais uma entre milhares de oportunidades perdidas de inovação, geração de emprego, melhoria de tecnologia e qualidade de vida, entre tantas oportunidades de crescimento.

No entanto, chamar a sociedade para uma discussão sobre inovação em nosso país, nesse momento, pode parecer desafiador. Mas apesar disso, também parece que esse seria o momento certo para enfrentar esse problema que pode nos tirar dessa posição de retardatários.

Em locais em desenvolvimento, como aqui, investir nesse setor pode até parecer arriscado. O normal é que em momentos difíceis e incertos como o que estamos vivendo, investíssemos exclusivamente em oportunidades de retorno garantido. Mas essa é uma análise rasa. Prova disso é o caso do argentino Emiliano Kargieman, fundador e CEO da Satellogic, empresa que está desenvolvendo uma constelação de satélites para oferecer serviços e informações espaciais em tempo real. Kargieman foi reconhecido pela Singularity University como a pessoa que desenvolveu uma tecnologia com mais probabilidade de impactar 1 bilhão de pessoas. Em entrevista à revista Exame, Emiliano deixou claro que “um país que falha em inovação, tem 100% de probabilidade de ter sua contribuição para o PIB global reduzida, impactando negativamente o bem-estar relativo de sua população”. Diante disso, fica cada vez mais evidente que o sucesso de um país vai além das apostas sem profundidade. É primordial garantir muito mais do que a estabilidade da moeda. É preciso priorizar um sistema efetivo de ensino e educação, criar leis e regimes fiscais propícios, comunicação efetiva com mercados mundiais e incentivos à pesquisa.

Apesar da desconfiança de um futuro mais positivo, nada disso é impossível! O Brasil é um dos países que mais cresce em empreendedores. O importante é que haja alternativas que estimulem a economia, a competitividade e a inovação. Mas, para que isso aconteça, é preciso antes de tudo, proteger a propriedade intelectual e garantir que o Brasil consiga fazer essa roda girar.

Fonte: Antonio Carlos de Oliveira